Sumário
ToggleNeste estudo, vamos destacar:
- A mulher adúltera e seus acusadores.
- Jesus, a luz do mundo.
- Discussão sobre o testemunho que Jesus dá de si mesmo.
- Jesus e Abraão.
- Os filhos da promessa vs os filhos biológicos.
Introdução
O oitavo capítulo do Evangelho de João mergulha ainda mais fundo na crescente tensão entre Jesus e os líderes religiosos de Jerusalém. Após a Festa dos Tabernáculos, Jesus continua ensinando no templo e faz declarações que desafiam diretamente a compreensão religiosa dos judeus, revelando Sua identidade de forma ainda mais clara e confrontadora. Neste capítulo, encontramos algumas das falas mais impactantes de Jesus, incluindo a afirmação: “Eu sou a luz do mundo”, e a poderosa declaração “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”.
Tema central:
- O conhecimento das Escrituras nos livrará dos laços do sistema do mundo e do maligno. Toda verdade nos libertará e nos fará filhos do Deus altíssimo.
Principais personagens:
- Jesus;
- A mulher adúltera;
- As autoridades religiosas;
- Abraão que é citado.
Lições principais:
- A verdade liberta. A liberdade que Jesus oferece não é política ou social, mas espiritual. A verdadeira escravidão é ao pecado, e só o Filho pode libertar completamente.
- A filiação espiritual é mais importante que a linhagem física. Não basta ser descendente de Abraão; é necessário andar em fé e obediência, como ele andou. A fé verdadeira se manifesta em ações.
- A rejeição a Jesus revela a origem espiritual dos corações. Jesus afirma que quem é de Deus ouve Suas palavras, mas quem O rejeita mostra estar sob influência do pai da mentira.
- Jesus é eterno e divino. Ao dizer “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”, Ele se identifica com o próprio Deus revelado a Moisés, uma das declarações mais diretas de Sua divindade.
- A verdade do Messias gera confronto. O capítulo termina com uma tentativa de apedrejamento, mostrando que a revelação do Messias incomoda quem está preso ao orgulho religioso e ao pecado.
Principais versículos:
- 8:12 — Jesus voltou a falar ao povo e disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida.”
- 8:24 — “Por isso eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados.”
- 8:31 — Então Jesus disse aos judeus que haviam crido nele: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos.”
- 8:32 — “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.”
- 8:36 — “Se, pois, o Filho os libertar, vocês de fato serão livres.”
- 8:44 — “Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade…”
- 8:58 — “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!”

A Mulher Adúltera (João 8:1-11)
1 Jesus, porém, foi para o monte das Oliveiras. 2Ao amanhecer, ele apareceu novamente no templo. Todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se sentou para ensiná‑lo. 3Os mestres da lei e os fariseus trouxeram‑lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram‑na ficar em pé diante de todos 4e disseram a Jesus:
— Mestre, esta mulher foi surpreendida no ato de adultério. 5Na lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E, você, o que tem a dizer?
6 Eles estavam usando essa pergunta para testá‑lo, a fim de terem fundamento para acusá‑lo.
Jesus, porém, inclinou‑se e começou a escrever no chão com o dedo. 7Visto que continuavam a interrogá‑lo, ele se levantou e disse:
— Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela.
8 Ele inclinou‑se novamente e continuou escrevendo no chão.
9 Os que o ouviram, acusados pela consciência, foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos, até que Jesus ficou só com a mulher que estava diante dele. 10Então, Jesus pôs‑se em pé e perguntou‑lhe:
— Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?
11 — Ninguém, Senhor — disse ela.
Jesus declarou:
— Eu também não a condeno. Vá e, de agora em diante, abandone a sua vida de pecado.
Comentário:
Fariseus e escribas questionam Jesus sobre o que deveria ser feito com aquela mulher pega em adultério tentando forçá-lo a escolher entre a Lei de Moisés, que exigia que tal mulher fosse apedrejada, e a compaixão e misericórdia que Jesus frequentemente demonstrava. Jesus, demonstrando seu profundo entendimento tanto das Escrituras quanto da graça de Deus, responde de maneira inesperada. Ele diz: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra.” Essa resposta não só expôs a hipocrisia (falsidade) dos acusadores, que estavam prontos para condenar a mulher sem considerar seus próprios pecados, mas também revelou a necessidade de graça e misericórdia na aplicação da Lei.
Antes de responder aos fariseus e escribas, Jesus faz algo intrigante: Ele se inclina e começa a escrever no chão com o dedo. A Bíblia não explica explicitamente o que Jesus escreveu, o que tem gerado muitas interpretações ao longo dos séculos. Uma interpretação interessante é baseada em Jeremias 17:13, onde está escrito: “Ó Senhor, Esperança de Israel! Todos aqueles que te deixam serão envergonhados; o nome dos que se apartam de mim será escrito no chão; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas.”
Um a um, começando pelos mais velhos, os acusadores se retiram silenciosamente, conscientes de seus próprios pecados. Ao final, nenhum acusador resta, e Jesus, que poderia ter atirado a primeira pedra por ser o único sem pecado, escolhe perdoar a mulher. Ele diz: “Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.” Este ato de Jesus destaca a mensagem central do Evangelho: a graça e o perdão de Deus estão disponíveis para todos que reconhecem seus pecados e se voltam para Ele.
Jesus, a Luz do Mundo (João 8:12-20)
12Falando novamente ao povo, Jesus disse:
― Eu sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13Os fariseus lhe disseram:
― Você está testemunhando a respeito de você mesmo. O seu testemunho não é válido!
14Jesus respondeu:
― Ainda que eu mesmo testemunhe em meu favor, o meu testemunho é válido, pois sei de onde vim e para onde vou. Vocês, porém, não sabem de onde vim nem para onde vou. 15Vocês julgam por padrões humanos; eu não julgo ninguém. 16Mesmo que eu julgue, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou sozinho. Eu estou com o Pai, que me enviou. 17Na lei de vocês, está escrito que o testemunho de dois homens é válido. 18Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou.
19Então, perguntaram‑lhe:
― Onde está o seu pai?
Jesus respondeu:
― Vocês não conhecem nem a mim nem ao meu Pai. Se me conhecessem, também conheceriam o meu Pai.
20Ele proferiu essas palavras enquanto ensinava no templo, perto do lugar onde se depositavam as ofertas. No entanto, ninguém o prendeu, porque a sua hora ainda não havia chegado.
Comentário:
Jesus declara ser “a Luz do Mundo”, iluminando a escuridão espiritual da humanidade. Na Lei de Deus, está estipulado que é necessário o testemunho de duas ou mais pessoas para validar qualquer acusação ou afirmação (Deuteronômio 19:15). Os líderes religiosos tentam desacreditar Jesus, alegando que Ele testemunha de Si mesmo e, portanto, Seu testemunho não seria válido. No entanto, Jesus afirma que Ele não está só. Deus, o Pai, está nEle e testemunha sobre Ele. Além disso, as obras maravilhosas que Jesus realizou servem como testemunhas adicionais, evidenciando que Ele é o Filho de Deus. A oposição entre luz e trevas é um tema central aqui: Jesus oferece a luz divina aos homens, enquanto Satanás tenta mantê-los nas trevas. Aqueles que acusam Jesus de falso testemunho julgam conforme a aparência, ou seja, segundo os critérios humanos e carnais. Eles veem apenas a figura de um homem comum, incapazes de reconhecer a glória do Filho de Deus, porque andam nas trevas espirituais.
O testemunho mais evidente que alguém pode considerar é aquele que une o ver e o crer. A própria Lei exige duas ou mais testemunhas para validar uma acusação ou confirmar uma verdade. No caso do Messias, os sinais que Ele realizou são, por si só, provas visíveis da atuação de Deus por meio d’Ele. Quantas pessoas foram curadas, libertas e perdoadas por meio da Sua palavra. Nicodemos, em João 3:2, reconhece: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” Essa confissão demonstra que até entre os principais dos judeus havia quem reconhecesse a natureza divina de suas obras.
Além dos milagres, o conhecimento que Jesus demonstrava das Escrituras é outro testemunho irrefutável. Em uma cultura onde apenas os que passavam anos nas escolas rabínicas tinham acesso a esse saber, o entendimento que Jesus revelava era sobrenatural. Se ainda assim, alguém recusa crer, não é por falta de sinais, mas por uma cegueira voluntária, uma escolha de permanecer nas trevas mesmo diante da luz.
O Aviso sobre a Morte em Seus Pecados (João 8:21-30)
21Mais uma vez, Jesus lhes disse:
― Eu vou embora, e vocês procurarão por mim, mas morrerão nos seus pecados. Para onde vou, vocês não podem ir.
22Isso levou os judeus a perguntarem:
― Acaso pensa em se suicidar? Será por isso que ele diz: “Para onde vou, vocês não podem ir”?
23Ele, porém, continuou:
― Vocês são daqui de baixo; eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo; eu não sou deste mundo. 24Eu disse que vocês morrerão nos seus pecados, porque, se não crerem que Eu Sou, de fato morrerão nos seus pecados.
25― Quem é você? — perguntaram.
― Exatamente o que tenho dito o tempo todo — respondeu Jesus. 26— Tenho muitas coisas para dizer e julgar a respeito de vocês. No entanto, aquele que me enviou é verdadeiro, e digo ao mundo aquilo que dele ouvi.
27Eles não entenderam que lhes falava a respeito do Pai. 28Então, Jesus disse:
― Quando vocês levantarem o Filho do homem, então saberão que Eu Sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, pois sempre faço o que lhe agrada.
30Tendo dito essas coisas, muitos creram nele.
Comentário:
Jesus reitera que tanto Ele quanto o Pai testemunham a verdade, e que as obras que Ele realiza são a prova de que Deus está operando por meio dEle. Essas obras são sinais que deveriam levar as pessoas a reconhecer que Jesus é o Enviado de Deus. As ovelhas que o Pai deu a Jesus, aqueles que são chamados à salvação, ouvem a sua voz, reconhecem sua origem divina e entendem para onde Ele está indo. Portanto, aqueles que estão perdidos em seus pecados rejeitam a única fonte de salvação que é Jesus, o Messias. Ao recusarem a ação do Espírito Santo em suas vidas, rejeitam a última oportunidade de salvação. Isso é o que Jesus, e posteriormente o Evangelista Mateus, chama de blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12:31). Esta blasfêmia é imperdoável porque é a rejeição consciente do testemunho de Deus, que é a verdade fundamental do evangelho. Aqueles que se mantêm nas trevas, recusando essa luz, estão se condenando à morte eterna.
Jesus destaca que Deus, em sua misericórdia, enviou seu Filho como testemunha para que as promessas das Escrituras fossem cumpridas. Ele se identifica como o “Eu Sou,” uma referência direta a Deus, conforme revelado em Isaías 43:10, onde Deus declara: “Antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá.” Ao usar essa expressão, Jesus está afirmando sua divindade e sua unidade com o Pai. Esta revelação é crucial, pois somente por meio de Jesus, o “Eu Sou”, é que a salvação pode ser alcançada. Aqueles que ouvem e creem em Jesus reconhecem essa verdade, entendendo que Ele é o único caminho para a reconciliação com Deus. Jesus sublinha que Ele é o Servo escolhido por Deus para realizar a salvação dos eleitos, e que todas as coisas se cumprem por meio dEle.
Quando crerem, será tarde: Jesus adverte seus ouvintes de que a oportunidade de salvação está diante deles agora, enquanto Ele ainda está presente no mundo. Ele menciona que, após sua obra de salvação, referindo-se à sua crucificação, ressurreição e elevação aos céus, muitos perceberão quem Ele realmente é, mas para alguns será tarde demais, pois rejeitaram a obra do Espírito Santo de Deus. Aqueles que não acreditarem nEle enquanto ainda têm a chance, especialmente os que resistem à obra do Espírito Santo, perderão a oportunidade de ter seus nomes escritos no Livro da Vida. Jesus fala de sua origem divina, afirmando que Ele é do alto e que voltará para onde veio. Se os incrédulos continuarem a rejeitá-lo enquanto Ele está com eles, não terão outra chance após a conclusão do plano de salvação. A advertência é clara: a incredulidade resultará em perda eterna, e quando finalmente reconhecerem quem Ele é, a janela de oportunidade para a salvação já terá se fechado, pois rejeitaram a obra de reconciliação com o Espírito Santo de Deus.
A Verdade Vos Libertará (João 8:31-38)
31Jesus disse aos judeus que haviam crido nele:
― Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos; 32então, conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.
33Responderam‑lhe:
― Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer que seremos livres?
34Jesus respondeu:
― Em verdade lhes digo que todo aquele que pratica o pecado é escravo do pecado. 35O escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho pertence a ela para sempre. 36Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres. 37Eu sei que vocês são descendentes de Abraão. Contudo, estão procurando matar‑me, porque em vocês não há lugar para a minha palavra. 38Eu falo do que vi na presença do Pai, e vocês fazem o que ouviram do pai de vocês.
Comentário:
Aos judeus que ouviram e creram em Jesus, foi oferecida a Palavra de Salvação. Jesus promete que se essas pessoas permanecerem na verdade, serão libertas do pecado. A verdade, que é a vontade de Deus e toda a sua Palavra, tem o poder de transformar vidas. Quando nos apegamos à Palavra como o princípio de nossa vida moral e vivemos conforme as leis e ensinamentos de Deus, experimentamos verdadeira libertação do pecado. No entanto, essa transformação gera oposição do mundo, pois aqueles que vivem na verdade inevitavelmente enfrentarão o ódio daqueles que permanecem nas trevas.
O Espírito Santo de Deus: Quem está em Jesus torna-se uma nova criatura, como ensinado em 2 Coríntios 5:17: “As coisas antigas já passaram, e eis que se fazem coisas novas.” A verdade conduz ao Pai, e o Espírito de Deus guia o crente em sua nova jornada espiritual. Esse Espírito estará disponível em toda a sua abundância e por meio do batismo de arrependimento e fé no Messias, especialmente após a elevação de Jesus aos céus. Por meio do Espírito Santo, os crentes são capacitados a viver de acordo com a verdade e a vontade de Deus, experimentando uma transformação contínua e profunda.
Jesus e Abraão (João 8:39-47)
39― Abraão é o nosso pai — responderam.
Jesus disse:
― Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras que Abraão fez. 40Vocês, porém, estão procurando matar‑me, embora eu tenha falado a vocês a verdade que ouvi de Deus; Abraão não agiu assim. 41Vocês estão fazendo as obras do pai de vocês.
Eles protestaram:
― Nós não somos filhos ilegítimos. O único Pai que temos é Deus.
42Jesus lhes disse:
― Se Deus fosse o Pai de vocês, vocês me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui. Eu não vim por mim mesmo, mas ele me enviou. 43Por que não compreendem o meu discurso? Porque são incapazes de ouvir o que digo. 44Vocês são do Diabo, o pai de vocês, e querem fazer o que ele deseja. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, expressa a sua própria natureza, pois é mentiroso e o pai da mentira. 45No entanto, vocês não creem em mim, porque digo a verdade! 46Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, por que não creem em mim? 47Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus.
Comentário:
Quando Jesus confronta os judeus que se opõem a Ele, eles reivindicam Abraão como seu pai, acreditando que esse parentesco os isentava de qualquer necessidade de libertação espiritual ou moral, afirmando que, por serem descendentes de Abraão, não eram escravos de ninguém. Jesus reconhece que Abraão é de fato o antepassado deles, mas os desafia, apontando que, embora fossem fisicamente descendentes de Abraão, não seguiam os passos de fé que ele demonstrou ao longo de sua vida. Abraão foi justificado por sua fé (Gênesis 15:6), como Paulo ensina em Romanos 4:3, e essa fé foi a base para sua atribuição de justiça.
Jesus destaca que, apesar de Abraão ser o patriarca da fé, ele não teve somente um filho, mas dois, Izaque, o da promessa e Ismael, por meio de Hagar. Ismael e sua mãe não foram abandonados por Deus, mas enviados ao deserto com os cuidados de Deus, e de Ismael se formou uma grande nação, embora ele não fosse o filho da promessa. Essa distinção entre filhos da promessa e filhos segundo a carne é também abordada por Paulo em Gálatas 4:22-31, onde ele afirma que Ismael representa a aliança do Sinai e Isaque, a da liberdade. O ponto é claro: descendência espiritual é o que importa no Reino. Essa história, também ilustra, que a mera descendência física de Abraão não garante a participação nas promessas de Deus. Jesus utiliza essa narrativa para enfatizar que a verdadeira filiação a Abraão não é baseada apenas em laços de sangue, mas em seguir os passos de fé que ele exemplificou por meio de sua vida em obediência a verdade, que é a própria palavra de Deus.
A grande discussão entre Jesus e os líderes religiosos gira em torno dessa ascendência. Os judeus acreditavam que, sendo descendentes de Abraão, estavam automaticamente livres da escravidão espiritual e sempre garantidos pelas promessas feitas a Abraão. No entanto, Jesus deixa claro que Deus pode excluir aqueles que, embora fisicamente descendentes de Abraão, não seguem sua fé. Ele afirma: “O escravo não permanece sempre na casa, mas o filho aí permanece para sempre” (João 8:35), indicando que apenas aqueles que são verdadeiramente filhos de Deus pela fé têm um lugar permanente na família de Deus.
Se sois filhos de Abraão, seja como ele: Jesus desafia os judeus religiosos a provarem sua verdadeira filiação a Abraão não apenas por palavras, mas por ações que refletem a fé de Abraão. Abraão demonstrou sua fé em Deus de forma radical, até ao ponto de estar disposto a sacrificar seu filho Isaque, o filho da promessa, por obediência a Deus. Essa demonstração de lealdade e confiança em Deus é o que Jesus espera ver nos que se dizem filhos de Abraão, pois sem fé é impossível agradar a Deus. (Hebreus 11:6).
Antes que Abraão Existisse, Eu Sou (João 8:48-59)
48Os judeus lhe responderam:
― Não estamos certos em dizer que você é samaritano e está endemoniado?
49Jesus disse:
― Não estou endemoniado! Ao contrário, honro o meu Pai, e vocês me desonram. 50Não busco glória para mim mesmo, mas há quem a busque e julgue. 51Em verdade lhes digo que, se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.
52Diante disso, os judeus exclamaram:
― Agora sabemos que você está endemoniado! Abraão morreu, bem como os profetas, mas você diz que, se alguém guardar a sua palavra, nunca experimentará a morte. 53Você é maior do que Abraão, o nosso pai? Ele morreu, bem como os profetas. Quem você pensa que é?
54Jesus respondeu:
― Se glorifico a mim mesmo, a minha glória nada significa. O meu Pai, que vocês dizem ser o seu Deus, é quem me glorifica. 55Vocês não o conhecem, mas eu o conheço. Se eu dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vocês, mas eu de fato o conheço e guardo a sua palavra. 56Abraão, o pai de vocês, regozijou‑se porque veria o meu dia; ele o viu e se alegrou.
57Os judeus lhe disseram:
― Você ainda não tem cinquenta anos e viu Abraão?
58Jesus respondeu:
― Em verdade lhes digo que, antes de Abraão nascer, Eu Sou!
59Então, pegaram pedras para apedrejá‑lo, mas Jesus escondeu‑se e saiu do templo.
Comentário:
Jesus, ao dialogar com os líderes religiosos, revela uma verdade que eles, em sua compreensão carnal e limitada, não conseguem entender. Jesus afirma que Abraão, o patriarca da fé, se alegrou ao ver o dia do Messias. Essa afirmação deixou os judeus confusos, pois, em sua visão terrena e superficial, eles pensaram que Jesus estava falando de uma simples questão de idade, imaginando que Ele alegava ter vivido na época de Abraão. No entanto, Jesus estava se referindo a uma realidade espiritual e teológica: a alegria de Abraão ao contemplar, com os olhos da fé, a promessa da vinda do Messias, que traria a salvação ao mundo. Essa alegria era verdadeira, e Abraão, de fato, viu, pela fé, o dia em que o plano de Deus se cumpriria em Jesus.
Jesus aponta para o dia da promessa que trouxe grande alegria a Abraão: o nascimento de seu filho Isaque, o herdeiro da promessa divina. Abraão, já idoso, com cerca de cem anos, riu de felicidade ao ouvir de Deus que sua esposa Sara, apesar da idade avançada, daria à luz um filho. Esse filho, Isaque, seria o portador da aliança que Deus estabeleceu com Abraão, uma aliança perpétua para sua descendência. Conforme Gênesis 17:19, Deus disse a Abraão: “De fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência.”
Essa promessa foi o fundamento da fé de Abraão, e sua alegria ao ver o cumprimento da promessa foi um reflexo da confiança que ele tinha em Deus. Jesus, ao mencionar essa alegria, conecta a fé de Abraão com a revelação de sua própria identidade como o Messias, o Filho de Deus. Ao dizer “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”, Jesus não apenas afirma sua preexistência, mas também sua divindade, utilizando a mesma expressão com a qual Deus se revelou a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). Essa declaração enfurece os líderes religiosos, pois, aos seus olhos, era uma blasfêmia alguém se declarar igual a Deus. Contudo, para os que têm olhos espirituais, essa era a revelação mais profunda de quem Jesus realmente é: o eterno Filho de Deus, que existia antes de Abraão e que cumpre todas as promessas feitas a ele.
Assim como Abraão se alegrou ao ver, pela fé, o cumprimento da promessa, somos hoje chamados a crer que Jesus é o Messias eterno, o Filho de Deus, digno de toda confiança e adoração.
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2 Comentários
Deus abençoi!
Com a elaboração desse estudo BIBLICO
E de muita valia para o crescimento na pratica da pregaçâo e no evangelismo.
Fala, Fernando.
Tudo em paz?
Obrigado por seu comentário. Ficamos felizes em poder ajudar sua pregação bíblica.
Deus te abençoe.